Elas também falam economês

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Enviado por mayra.onishi em qua, 24/01/2018 - 12:36

 

Mais recente grupo de pesquisa criado na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, o EconomistAs – Brazilian Women in Economics (BWE) destaca-se por sua singularidade: pretende investigar e divulgar a posição relativa das mulheres economistas em vários estágios da carreira acadêmica e no mercado de trabalho, e tentar identificar as causas para a baixa representatividade das mulheres na área. 

Formado pelas professoras da FEAUSP Maria Dolores Montoya Diaz, Fabiana Fontes Rocha, Paula Pereda e Renata Narita, além da doutoranda Bruna Pugialli da Silva Borges e das alunas de graduação Fernanda Barbosa Moro e Natalie Cardoso Martins, o EconomistAs promoveu no dia 9 de novembro um seminário para marcar o início de suas atividades. 

Com a participação da economista-chefe da XP Investimentos e também ex-aluna da FEA, Zeina Abdel Latif, e da professora do Insper, Regina Madalozzo, que se dedica a pesquisas sobre economia do trabalho, da família e do gênero, o seminário explorou o tema “Diversidade na área de Economia? O que dizem as mulheres”, com o testemunho das convidadas acerca de sua vivência profissional num mercado predominantemente masculino. 

A professora Renata Narita, que mediou o evento, apresentou estatísticas sobre a proporção de mulheres matriculadas nas instituições de ensino superior do país e, mais especificamente, nos cursos de Economia. Comparando os anos de 2010 e 2015, Narita mostrou que não houve praticamente alteração no quadro. As mulheres continuam sendo maioria nas salas de aula: 57%. No caso específico de Economia, elas representavam 39% do total de matriculados, em 2015, um ponto percentual a mais do que em 2010.

Ao enfocar apenas a Universidade de São Paulo, os dados são diferentes . Em 2015, as mulheres somavam 52% do total de matriculados na USP, mas no curso de Economia elas totalizavam apenas 26%. Uma curiosidade levantada pela professora Renata Narita é a de que o curso de Economia está perdendo até para o de Engenharia em quantidade de mulheres. Com relação à carreira docente, houve um aumento significativo na proporção de mulheres. Enquanto na década de 70, elas representavam 10% do corpo docente, no ano passado já eram 22%. 

Mercado de trabalho
A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Abdel Latif, reconheceu que existe preconceito no mercado de trabalho em relação às mulheres economistas, mas que esse fato nunca atrapalhou sua carreira. “O preconceito vai aparecer? Vai, mas é contornável”, justificou. Por outro lado, ela disse que as mulheres têm muita responsabilidade pelo estado atual de desigualdade, por questões culturais. “O exemplo vem muito de casa. As mulheres erram na criação, exigem muito mais desempenho profissional do homem”.

Zeina Latif criticou as mulheres que se vitimizam: “Não acho bom a gente se vitimizar, não serve para nada”. Ela também admitiu que as mulheres são menos ambiciosas e fazem menos networking que os homens. “Às vezes, o fato de a gente ter mais preocupação com a família do que a média dos homens é interpretado como a gente sendo menos dedicada ao trabalho, ou menos interessada. Isso não é verdade. Mas é claro que as mulheres têm outros interesses. Nós somos diferentes, mesmo”. 

A professora Regina Madalozzo, cujas pesquisas são relacionadas à posição e atuação da mulher no mercado de trabalho, trouxe para o seminário sua vivência na academia e no ambiente de trabalho. Ela reconheceu que teve dificuldades em definir suas escolhas e que, por isso, hoje tenta encorajar suas alunas em relação ao futuro da carreira. “Acho extremamente importante dar orientação, principalmente para as alunas. Às vezes, elas precisam de um empurrão. Conseguir falar com pessoas mais jovens e orientá-las é muito importante”.

Como surgiu a ideia do grupo
Quando tomou conhecimento da proposta para a criação do grupo de pesquisa EconomistAs, o chefe do departamento de Economia da FEAUSP, Eduardo Amaral Haddad, ficou bastante entusiasmado, de acordo com a professora Fabiana Fontes Rocha. Ela explicou ao Gente da FEA como surgiu a ideia de montar o grupo: “Com a mudança rápida no perfil do departamento ocorrida entre o final do ano passado e o início deste, especialmente com a aposentadoria de muitas das nossas docentes, começamos a conversar sobre a necessidade de estudar a questão da participação feminina na área de Economia no Brasil”.  

Fabiana disse, ainda, que elas tinham a percepção de que o número de alunas no curso de graduação de Economia também vinha caindo. “Na pós-graduação o número sempre foi pequeno, mas estamos com a sensação de que menos mulheres estão interessadas em estudar Economia”. Em relação ao mercado de trabalho, ela afirmou: “Vemos que as mulheres se destacam pouco na profissão. Com raras exceções, vemos poucas mulheres participando do debate de conjuntura econômica”. 

As linhas de pesquisa do EconomistAs ainda estão sendo definidas. O grupo pretende utilizar uma quinta-feira por mês, do programa de Seminários Acadêmicos do departamento de Economia da FEAUSP, para convidar pesquisadoras e professoras interessadas em estudos de gênero ou nas diversas áreas de Economia. Nesse mês de dezembro, o grupo também participará do Encontro Nacional de Economia, onde terá uma sessão especial no encontro da Sociedade Brasileira de Econometria, para divulgação do grupo e apresentação de artigos relacionados a gênero e debate. 

Saiba mais sobre o EconomistAs no site: www.usp.br/bwe.

Gente da FEA - dezembro de 2017
Autora: Cacilda Luna